O presépio está na sala,
A ceia a ser preparada,
Na cozinha baila o cheiro da canela,
Na aletria e nas rabanadas.
Sobre a mesa está estendida,
Uma toalha de linho florida
E sobre ela… ah! Sobre ela,
Está um bolo rei e outras iguarias,
As crianças ansiosas
Esperam pelas suas prendas,
Os minutos já não passam
E até parecem dias.
A mãe muito atarefada
Às perguntas vai respondendo:
- Sim eu sei!… Dizia ela
Para não os ver sofrer,
E o filho mais velho perguntava:
- Que prenda mãe… eu vou ter?
O que o Menino Jesus me vai dar?
- Por favor saiam daqui!…
Implorava a mãe sorrindo
Que me estão atrapalhar,
Eu estou muito ocupada
Com a ceia de Natal.
Todos estavam felizes
E sorriam de contentes
E no presépio o Menino,
Na manjedoira deitado,
Triste e ignorado,
Olhava para toda a gente.
- Ó mãe… estou para ver
Que presente eu vou ter?
E o Menino Jesus
Murmura baixinho:
- Quem faz anos hoje, sou eu,
Há dois mil anos que é assim,
Toda a gente me esqueceu
E ninguém quer saber de mim.
A mãe cansada
Vai limpando o suor,
Lá fora está muito frio
E aqui dentro… muito calor
E o Menino Jesus deitado,
Olhava para todos com amor.
Todos se sentaram à mesa
Para iniciar o festim
E o Menino Jesus retorquiu
- Ninguém fez o Sinal da Cruz,
- Ninguém se lembrou de Mim.
Tilintam os copos,
Movimentam-se os talheres
E a comida que é servida
Foi cozinhada
Por uma santa mulher.
O relógio deu as doze badaladas
E todos abriram as prendas,
No chão da sala
Amontoaram-se os papeis,
Sem regras e sem leis
E o menino Jesus deitado
Nas palhinhas fazendo beicinho,
Olhava para todos e perguntava,
- Então e Eu?…
Toda a família me esqueceu.
O fim da festa chegou
Todos se foram deitar
E o Menino Jesus quase a chorar
Naquele silêncio seu,
Olhou em seu redor e perguntou:
- Então e Eu?…
Toda a família me esqueceu.
Hoje foi a festa de Natal,
Durou apenas algumas horas
E como tudo na vida
Também teve o seu fim,
Tantos corações felizes
E nenhum se lembrou de mim.
A casa já está em silêncio
Porque se apagaram a luzes,
Fui por todos esquecido
Apesar de ser Natal,
De eu ser irmão de todos
E de amar todos por igual.
Natal 2020
Poema de Maria Judite de Carvalho
Reservados os direitos de autor