RETRATO PINTADO
Em algum momento do tempo,
O pintor pegou numa tela
E pintou uma familia feliz,
O pai, a mãe e dois filhos,
Exatamente como ela sempre quis.
Depois!… Depois pintou o amor de cada um,
O carinho, os beijos, os desejos
E coisas coloridas e simples,
Porque sempre agradam a quem ama
E no centro da tela,
Pintou uma casinha singela,
Cercada por um jardim muito colorido,
Com muitas flores e uma era.
A casa tinha uma janela aberta
Por onde entrava a felicidade,
Os passarinhos, o amor, o carinho,
O luar da noite e o sol da madrugada.
As crianças brincavam, divertidas e felizes
Sem cansaço á tardinha,
Baloiçavam-se muito confiantes
De que iriam conquistar o céu
E que a vida iriam vencer
Depois da espera de crescer.
As noites, os dias e as estações do ano,
Foram-se alternando sucessivamente,
Com realizações ou decepções,
Ora eram quentes no calor do verão,
Ora eram frias no gelo do inverno,
Ora eram passivamente passadas em paz,
Ora cheias de ansiedade e desenganos.
Devido aos contratempos da vida
E com o passar do tempo,
A noite foi crescendo, crescendo
E sombreando o retrato e as cores da alegria
E por mais cor que o pintor lhe colocasse
Ia ficando…ficando triste e sem vida
Aos olhos de quem olhava a tela,
Porque ela foi ficando, com menos doçura,
Menos amor, menos carinho e menos bela.
Quando a noite escureceu completamente
E as crianças deixaram de ser crianças,
Fecharam os olhos ao passado e às lembranças,
Para irem mundo fora à procura de uma vida nova,
Esquecidos do amor que tinha existido outrora
E agora…
Agora a tela feita de retalhos, sem vida, esquecida,
Sem cor, como uma natureza morta,
Está pendurada na parede junto à porta,
Coberta de tristeza e de pó,
Esperando o fim...
E até as pedras que não foram pintadas na tela,
Choram muito entristecidas,
Com pena de ti e de mim.
18-01-2022
Poema de Maria Judite de Carvalho