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CONTO DE
NATAL |
A PRENDA DE NATAL
José era
um acérrimo adepto da preservação da natureza e do meio ambiente do seu planeta
e como tal, todos os anos no Natal, aproveitava as feiras de velharias que se
realizavam nas redondezas e na sua
paróquia, para comprar uma peça ou outra, que lhe fazia falta lá em casa.
Vivia
só, era viúvo e a sua única filha estava emigrada no estrangeiro.
O Natal
aproximava-se e como ela vinha passá-lo a Portugal, frequentou todas as feiras,
com o propósito de comprar um pequeno móvel, para preencher um grande espaço vazio em um dos quartos da sua habitação.
Numa
dessas feiras encontrou uma cómoda antiga. A cómoda que sempre sonhara ter e apesar de bastante velhinha, sem hesitar, pegou nos euros que possuía no bolso,
comprou-a e levou-a para casa como se fosse a sua melhor prenda de Natal.
O móvel
estava velho, muito velho, mas José logo
se imaginou a restaurá-lo, a passar-lhe verniz e a fazer dele a peça mais
bonita da sua residência, já que a tinha desejado em toda a sua vida.
Quando
José começou a reparar o móvel, um dos gavetões parecia estar colado à restante
madeira e não se movia por mais que ele se esforçasse. Só depois de muitas
tentativas, com muita paciência e cuidado, o conseguiu abrir.
Depositado
no interior daquelas cinco tábuas teimosas, estava uma pequena caixa de
madeira, também muito velha e suja de tantas vezes ter sido lambida pelos cinco
dedos das mãos da sua proprietária.
José ao
ver a caixa ficou curioso e como qualquer mortal, sem hesitar, abriu-a.
No
interior tinha apenas um postal de Boas Festas natalícias, escrito com palavras
muito ternas, pela mão de um homem extremamente apaixonado, onde pedia à sua
amada para que em todos os Natais em que ele estivesse ausente, o lesse em voz audível antes do início da ceia de natal, e depois… o colocasse bem junto a ela
quando se sentasse á mesa.
No
envelope apesar de muito amarelecido pelo uso e pelo tempo que por ele tinha
passado, ainda se conseguiam ler o nome
e a morada da destinatária.
José
enternecido com aquela manifestação de amor, meteu-o novamente dentro da caixa
e procurou a proprietária para lhe entregar aquela jóia familiar.
Chegado
ao destino, ficou triste e decepcionado ao ver que a casa estava bastante
destruída, sem janelas, sem telhado e sem ninguém a viver nela, porque não
tinha resistido á fúria de uma destruidora tempestade.
José não
desistiu e junto dos vizinhos, tentou saber do paradeiro da família que tinha residido naquela casa desabitada e em ruínas.
Soube
então, que a senhora que ali tinha morado, já estava com bastante idade e por
apresentar muita debilidade física, sem ter nenhum familiar para lhe dar algum
apoio, tinha sido alojada num lar de idosos.
José,
sem largar a caixinha de madeira, foi ao encontro da idosa.
Chegado
ao lar, uma das irmãzinhas dos pobres encaminhou-o até ao quarto onde a senhora
estava acamada e assim que ela o viu com a sua caixinha na mão, sorriu-lhe
enternecida e carinhosamente lhe disse:
- Demoraste
tanto tempo a chegar, meu amor!… Hoje é dia de natal e como já vejo muito mal, este ano serás tu,
quem vai ler para mim o teu postal de Boas Festas;
- Meus
olhos estão cansados, muito cansados, e dificilmente o conseguiriam ler.
Deu um
profundo suspiro de alívio, fechou os olhos e com um sorriso nos lábios, deu inicio à sua partida.
José profundamente emocionado, sentou-se na beira da cama bem juntinho a ela,
agarrou-lhe uma das mãos e leu-lhe o postal em voz alta, para que aquela alma que
acabava de desencarnar, ainda tivesse o seu presente de natal.
Natal de
2016
Autora:
Maria Judite de Carvalho
"Reservados os direitos de autor."