A VIDA NO FEMININO
A VIDA NO FEMININO
Tapaste as panelas,
Estendeste a roupa,
Tiraste o avental
E foste para a cama,
Te deitaste sobre ela
Sem poderes pensar,
Adiaste os lamentos
E dormiste
Sobre os espinhos,
Sem poderes sonhar.
Levantaste-te cedinho
E lavaste a tristeza,
Na água corrente
Deixaste ir o medo
Por entre os teus dedos
E ignoras o monstro
Ao teu lado a crescer,
Sem nada fazeres.
Apesar de ser dia
Atravessas o escuro
E sobes ao muro
Para espreitares
A claridade,
Que tentas prendê-la
O mais que tu podes
E ficas a ela
Muito agarrada.
Segues em frente
Sem olhar para trás
E sem esqueceres
Que a luz é mulher,
Que o Sol
Também queima,
Que a estrada
Também encurta
E que por isso não importa
Que te fechem a porta,
Porque a curva
também é recta
E a reta
Também entorta.
18-04-2020
Poema, de Maria Judite de Carvalho
Reservados os direitos de Autor